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PSICOLOGIA ANALÍTICA

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É relevante estudar Jung?

Poduto 3

Essa é uma boa pergunta a ser feita, e já adianto que a resposta é: sim.

Jung foi um pesquisador sério e comprometido com seu objeto de estudo. Sua obra altera profundamente a visão do ser humano a respeito de si mesmo e de suas possibilidades de produzir conhecimento. Foi um autor que influenciou as mais variadas áreas do conhecimento. Para entendermos a relevância da Obra de C.G.Jung recorro a um trecho de Marie Louise Von Franz que está na introdução do livro “C.G. Jung Seu mito em nossa época”, ela diz:

Escrever acerca do efeito de C. G. Jung na cultura de nossos dias e para a cultura de nossos dias, e fazer justiça ao assunto é uma tarefa que apresenta dificuldades incomuns. (…) a originalidade e a criatividade de suas descobertas e idéias se relacionaram com todo o ser humano, tendo portanto ecoado nas mais variadas áreas exteriores à psicologia: seu conceito de sincronicidade, por exemplo, refletiu-se na física atômica e na sinologia; sua interpretação psicológica dos fenômenos religiosos, na teologia; sua concepção fundamental do homem, na antropologia e na etnologia; sua contribuição para o estudo dos —fenômenos ocultistas, na parapsicologia — para mencionar uns poucos casos. Como a obra de Jung abrange tantos e tão variados campos de interesse, sua influência na nossa vida cultural fez-se sentir de maneira deveras gradual e, na minha opinião, mal começou. (…) Jung estava a tal ponto à frente da sua época que as pessoas somente aos poucos começam a alcançar suas descobertas. Há também o fato de suas percepções e seus insights jamais serem superficiais, mas dotados de um grau tão assombroso de originalidade que muitos devem vencer um certo temor à inovação antes de poderem encará-los com a mente aberta. (…)

Consciente x Inconsciente

 

Demarcada a questão da relevância do estudo da obra de C.G.Jung, podemos agora falar um pouco sobre um dos temas principais e pressuposto básico para a compreensão da Psicologia Junguiana, o “Inconsciente”.
Não é possível falar da Psicologia de Jung sem falar de inconsciente. Essa é uma questão fundamental para o entendimento da psicologia de Jung, ele vai partir, sempre, do ponto de vista que existem dois sistemas na psique que estão constantemente em relação um com o outro, o consciente e o inconsciente. Na observação dessa relação Jung coloca que a consciência pode ser perturbada, compensada ou complementada pelo inconsciente. Não podemos perder isso de vista nunca.
Importância de delimitar os conceitos em Psicologia Jung tinha grande preocupação com o entendimento de seus conceitos e as confusões que a não delimitação deles poderia causar e passa uma boa parte da sua obra delimitando-os. No livro tipos psicológicos Jung diz a respeito dessa preocupação o seguinte:

“(…) mas sei, por experiência, que todas as precauções são poucas, precisamente em obras psicológicas, no que diz respeito a conceitos e expressões, visto que, de fato, observam-se, no âmbito da Psicologia, as maiores variações nos conceitos, dando origem às mais pertinazes e errôneas interpretações. (…) ”

E propõe como solução o seguinte:

“(…) O investigador terá de esforçar-se, pessoalmente, em dar pelo menos aos seus próprios conceitos alguma solidez e exatidão. A melhor maneira de fazê-lo é explicando o significado dos conceitos de que se serviu em suas obras, de maneira que todo mundo fique em situação de saber o que, com eles, se pretende exprimir. ”

Hoje em dia alguns termos caíram no senso comum e com isso se afastaram ainda mais da ideia inicial de Jung, como por exemplo, os termos introversão e extroversão que acabam sendo usados como sinônimos de ser tímido ou não, não é disso que se trata quando Jung utiliza estes termos. Para tentar nos afastar desses erros e nos aproximar de Jung vou recorrer, novamente, a algumas citações,para que façamos uma coisa que é rara no meio chamado Junguiano, que é ler Jung.

 

Inconsciente

 

Então em respeito a ele e por saber da importância que isso tem, é preciso saber o que está sendo evocado quando Jung utiliza o termo Inconsciente. No livro Tipos Psicológicos (vol. 6 das obras completas) a partir da página 420, Jung faz um glossário com algumas definições, cito agora um trecho da definição de inconsciente como aparece no livro no §847:

Inconsciente. Para mim este conceito é exclusivamente psicológico e não filosófico, no sentido metafísico. É um conceito-limite psicológico que abrange todos os conteúdos ou processos psíquicos que não são conscientes, isto é, que não estão relacionados com o eu de modo perceptível. (…)

Marie Louise Von Franz, uma das grandes referências entre autores Junguianos clássicos, faz uma colocação interessante que pode nos ajudar a entender melhor isso, ela coloca que inconsciente é um conceito limítrofe e negativo. É limítrofe porque marca até onde vai a consciência e negativo pois não afirma nada a priori sobre ele, apenas que é desconhecido (que não é consciente). Jung prossegue na definição:

(…) A justificação para falar da existência de processos inconscientes deriva, para mim, única e exclusivamente, da experiência, e sobretudo da experiência psicopatológica onde vemos claramente que num caso de amnésia histérica, por exemplo, o eu nada sabe da existência de complexos psíquicos difusos, mas que um simples procedimento hipnótico consegue, de um momento para outro, reproduzir plenamente o conteúdo perdido (…)”

Para deixar isso mais simples é só pensar na hipnose, na qual a pessoa não lembra de algo e através do processo hipnótico consegue acessar a informação. Jung continua:

(…) impossível é fixar a abrangência do inconsciente, isto é, saber quais conteúdos nele se contêm. Sobre isso decide apenas a experiência.  Através da experiência sabemos, por exemplo, que conteúdos conscientes podem tornar-se inconscientes por causa da perda de seu valor energético. Sabemos pela experiência que esses conteúdos que estão abaixo do limiar da consciência não desaparecem simplesmente e que, oportunamente, mesmo após decênios, podem emergir das profundezas, verificando-se alguma circunstância favorável como, por exemplo, o sonho, a hipnose, a criptomnésia ou um reavivamento de associações com o conteúdo esquecido. (…)

É fácil verificar isso em nós, basta pegar aqueles álbuns antigos de família e notar enquanto olha as fotos a quantidade de lembranças que antes estavam inacessíveis à consciência e agora aparecem novamente. Jung prossegue com a definição:

“(…) nossa experiência até aqui sobre a natureza dos conteúdos inconscientes nos permite certa classificação geral dos mesmos. Podemos distinguir um inconsciente pessoal que engloba todas as aquisições da existência pessoal: o esquecido, o reprimido, o subliminalmente percebido, pensado e sentido. Ao lado desses conteúdos inconscientes pessoais, há outros conteúdos que não provêm das aquisições pessoais, mas da possibilidade hereditária do funcionamento psíquico em geral, ou seja, da estrutura cerebral herdada. São as conexões mitológicas, os motivos e imagens que podem nascer de novo, a qualquer tempo e lugar, sem tradição ou migração históricas. Denomino esses conteúdos de inconsciente coletivo. (…)”

Essa é uma das várias definições de Inconsciente que aparecem ao longo da obra de Jung, nesse último trecho já aparece sua famosa divisão do Inconsciente em pessoal e coletivo, mas isso será tema de outro texto.

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A experiência do Inconsciente

 

Para finalizar e deixar essa ideia mais próxima ao leitor cito um trecho de Marie Louise Von Franz, no qual ela fala do inconsciente de uma maneira mais aplicada a vida cotidiana, ela diz:

(…) Mas o que é de fato esse inconsciente que teve um papel tão amplo e imprevisível na vida e na obra de Jung? Na realidade, trata-se apenas de uma moderna expressão técnica para uma experiência interior que nasceu com a humanidade, a experiência que ocorre quando algo estranho e desconhecido toma conta de nós a partir de dentro de nós mesmos; quando as ações de forças interiores mudam subitamente nossa vida; quando sonhamos, temos inspirações e vislumbres que sabemos não terem sido “construídos” por nós, mas que vieram a nós a partir de uma psique “exterior” e abriram seu caminho até a consciência. Em épocas anteriores, esses efeitos de processos inconscientes eram atribuídos a um fluido divino (mana), a um deus, a um demônio ou a um “espírito”. Essas designações exprimiam o sentimento de uma presença objetiva, estranha e autônoma, bem como de uma sensação de alguma coisa abarcadora a que o ego consciente tem de submeter-se. O próprio Jung teve experiências desses sonhos, vislumbres e efeitos desde o começo da juventude(…). Embora ele possa ter tido experiências dessa espécie em número maior e com intensidade maior do que é costumeiro, elas não são de modo algum raras. No passado, e mesmo hoje, entre pessoas que vivem próximas da natureza, elas se acham entre as ocorrências óbvias e por si só evidentes da existência. Todo curandeiro primitivo depende de suas visões e de seus sonhos; todo caçador conhece impulsos e intuições sobrenaturais; toda pessoa genuinamente religiosa teve, em alguns momentos de sua vida, essas experiências interiores. Mesmo no contexto da nossa civilização ocidental, um número de pessoas maior do que pensamos experimenta coisas desse tipo, embora só de raro em raro falem abertamente sobre elas, por temerem encontrar a rejeição racionalista tão característica da cultura contemporânea. (…)

 

Assista nosso vídeo sobre o assunto:

Alcimar dos Santos Junior

Alcimar dos Santos Junior

Graduado em filosofia, Analista Junguiano pelo Instituto Távola de Ribeirão Preto, Docente da Formação em Psicologia Analítica Instituto Távola e Palestrante. Participou de cursos no Núcleo de Pesquisa Junguiano de Portugal (Curso Mapa da Alma), Instituto Dédalus de Fortaleza (Temas da Psicologia Junguiana/Conto de fadas) Instituto Freedom (Psicologia e Alquimia). Seus estudos abrangem ainda as áreas de Mitologia comparada, Ciência das Religiões, Teatro e Música.

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